A maldição veio de onde? E por quê?
Que troféu é esse que precisa ser carregado?
A maldição veio de onde? E por quê? Que troféu é esse que precisa ser carregado?
Eu sou a criatura mais doce que há; penteio minhas serpentes todas as manhãs e as prendo no topo da cabeça. Soltas, apenas quando danço.
Baixo meus olhos.
É preciso, portanto, ser punida pelo aspecto racional, virgem, astuto, ao deixar-se seduzir pelas águas, ondas volúveis do mar, tridente? Eu amei. Deitei-me com ele no fundo da praia. E daí? Minha face não assustava ninguém, nem petrificava os que fazem gelar o próprio sangue. Sinceramente: nada tenho a ver com isso, ou com a falta de fluído dos outros.
Deixem-me em paz.
Acho curioso, aliás; têm-me medo: de que eu os vá prender no fundo da caverna? Domesticar tridentes para almoços de domingo? Camisas de botão?
Não permito que se estampe em minha pele de Sol e Lua as limitações que me lêem e que não me dizem respeito. Não sirvo para estar no escudo dos outros; tampouco darei à luz cavalos alados, montaria para heróis.
Os heróis nesse momento não me interessam. Fazem demasiado barulho e insistem em ver perigo e armadilhas onde ainda hoje cedo estive a espalhar pétalas. E, bem, se há olhos que falham em ver a delicadeza de veludo, perfume dos caminhos, deixem-me em paz.
O meu maior poder é a renúncia.
Torna-se pedra apenas aquilo que sedimentou-se. E se seu atributo é a fluidez, meu amante, venha. Nada há para temer aqui.
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